Os cortiços do passado
deram origem as favelas do Rio de janeiro. No terminal rodoviário
Américo Fontenelli, precisamente, na rua Barão de São Félix,
atràz da Central do Brasil, existia um cortiço denominado cabeça
de porco, porque ostentava em sua fachada uma cabeça de porco
esculpida em ferro.
Segundo o historiador
Sidney Chatoub no final do século XIX, havia uma onda de demolição
de cortiços. A demolição do Cabeça de Porco teria engrossado a
quantidade de pessoas que habitavam o morro da providência
por falta de moradias:
Era
dia 26 de janeiro de 1893, por volta das seis horas da tarde, quando
muita gente começou a se aglomerar diante da estalagem da rua Barão
de São Felix, número 154. Tratava-se da entrada principal do Cabeça
de Porco, o mais célebre cortiço carioca do período: um grande
portal, em arcada, ornamentado com a figura de uma cabeça de porco,
tinha atràz de si um corredor central e duas longas alas com mais de
uma centena de casinhas. Além dessa rua principal havia algumas
ramificações com mais moradias e vàrias cocheiras. Hà
controvérsias quanto ao número de habitações da estalagem:
dizia-se que em tempos àureos, o conjunto havia sido ocupado por
cerca de quatro mil pessoas.Naquela noite de janeiro, com toda uma
ala do cortiço interditada havia cerca de um ano pela Inspetoria
Geral de Higiene, a
Gazeta de Notícias
calculava em
quatrocentos o número de
moradores. Outros
jornais da época, porém, afirmavam que duas mil pessoas ainda
habitavam o local.
Seja como for, o que se
anunciava na ocasião era um verdadeiro combate. Três dias antes os
proprietários do cortiço haviam recebido uma intimação da
Intendência Municipal para que providenciassem o despejo dos
moradores, seguido da demolição imediata de todas casinhas. A
intimação não foi obedecida, e o prefeito Barata Ribeiro prometia
dar cabo do cortiço à força. Às sete horas e trinta minutos da
noite, uma tropa do primeiro batalhão de infantaria, comandada pelo
tenente Santiago, invadiu a estalagem, proibindo o ingresso e a saída
de qualquer pessoa. Várias famílias se recusavam a sair, se
retirando quando os escombros começaram a chover sobre suas cabeças.
Mulheres e homens que saiam daqueles quartos estreitos e infectos
“iam às autoridades implorar que os deixassem permanecer ali por
mais vinte e quatro horas”. Os apelos foram inúteis e, os
moradores se empenharam em salvar suas camas, cadeiras e outros
objetos de uso.
De
acordo com a Gazeta,
porém, “muitos móveis não foram retirados a tempo e ficaram sob
o entulho”. Os trabalhos de demolição prosseguiram pela
madrugada, sempre acompanhados pelo prefeito Barata. Na manhã
seguinte, já não mais existia a célebre estalagem Cabeça De
Porco.
O prefeito Barata, num
magnânimo rompante de generosidade, mandou “facultar à gente
pobre que habitava aquele recinto a retirada das madeiras que podiam
ser aproveitadas”em outras construções. De posse do material para
erguer pelo menos casinhas precárias,alguns moradores devem ter
subido o morro que existia lá mesmo por detrás da estalagem. Um
trecho do dito morro já parecia até ocupado por casebres, e pelo
menos um dos proprietários do Cabeça de Porco possuía lotes
naquelas encostas, podendo assim até manter alguns de seus
inquilinos. Poucos anos mais tarde, em 1897, foi justamente nesse
local que se foram estabelecer, com a devida autorização dos chefes
militares, os soldados egressos da campanha de Canudos.
O
prefeito da Capital Federal foi calorosamente aclamado pela imprensa
, ao varrer do mapa aquela “sujeira”, ele havia prestado à
cidade “serviços inolvidáveis”. Com efeito, trata-se de algo
inesquecível: nem bem se anunciava o fim dos cortiços, e a cidade
do Rio já entrava no século das favelas.
3
Alguns jornais da época
mencionam umas duas mil pessoas desabrigadas por conta da demolição.
Participaram dessa operação mais de cem operários munidos de
picaretas e machados. O então prefeito Barata Ribeiro deixou que os
desabrigados ficassem com as tábuas que sobraram da operação. Com
elas, subiram o morro mais próximo -Morro da Providência- e
reconstruíram suas casas.
O Cabeça de porco foi
famoso e vasto no Centro do Rio de Janeiro. Sua localização:
próximo de onde está hoje o Túnel João Ricardo. Ostentava uma
escultura de cabeça de porco por que, naquela época era usual a
imagem de animais em quintas e chácaras. Por volta de 1800 era,
talvez, o maior cortiço da Cidade. Um emaranhado arquitetônico que
abrangia a rua Barão de São Féliz até a Pedreira dos Cajueiros,
no Morro da Providência. No seu interior havia um grande quantidade
de cocheiras com animais e carroças, galinheiros e até um armazém.
Documentos indicam a existência de vários proprietários desde a
primeira metade do século XIX. Alguns proprietários ainda constam
nos nomes de logradouros próximo ao que era o Cabeça de Porco.
Alguns exemplos seriam a travessa D. Felicidade e Ladeira do Faria.
Em 1891, o engenheiro
Carlos Sampaio assinou contrato com o município para abrir o túnel
João Ricardo e esticar as ruas de sua entrada. Em 1893, o prefeito
Barata Ribeiro não perdeu tempo; baixou um decreto que permitia a
prefeitura derrubar as construções insalubres da Cidade. Nesse
mesmo dia foi comunicada a derrubada do Cabeça de Porco.
Ângelo Agostini, em
reportagem a revista ilustrada ironizando a imagem do prefeito, fala
da demolição:
“Quem suportaria que
uma barata fosse capaz de devorar uma cabeça de porco em menos de 48
horas, pois devorava alegremente, com ossos, pele e carne, sem deixar
vestígios”4
O cortiço era o modelo
clássico de construção coletiva da época. Sua destruição
ocasionou a interiorização e favelização. As pessoas foram em
direção do subúrbio para morar, como não era viável afastarem-se
do Centro, começaram a se organizar em favelas. O estilo cortiço já
revelava a preocupação em se construir espaços coletivos, ou seja,
moradias direcionadas as classes pobres. Ao mesmo tempo em que
isolava o pobre, amontoando-os em um mesmo local, evidenciava-se o
preconceito em relação ao seu caráter.
Os argumentos que foram
usados para destruição dos cortiços, no final do século XIX,
foram os mesmos que removeram mais de 50 favelas – entre 1968 e
1973: local insalubre e casa de marginais. Não é difícil de
imaginar o por que da crescente favelização. No século XIX, o
transporte era muito mais precário e, até mesmo inexistente, o
Centro do Rio de Janeiro já era um pólo comercial desenvolvido para
os padrões da época. O Cais do Porto e a Casa do Comércio na
Candelária era o ponto mais disputado da comercialização. Ali o
escravo de ganho vendia os seus quitutes, as mercadorias francesas
abasteciam a rua do ouvidor com seus produtos importados; os
barbeiros faziam suas sangrias e; figuras famosas discutiam o futuro
do país na Confeitaria Colombo.
Não podemos deixar de
mencionar aqui a operação “Bota Abaixo”, no início do século
XX, colocado em prática pelo então prefeito do Rio de Janeiro
Pereira Passos. A operação desencadeou verdadeiros protestos da
população pobre. Muitos bondes foram tombados e queimados. O
episódio coincidiu com a “revolta da vacina”, projeto
implementado pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz, com o aval do
então presidente da República Rodrigues Alves.
Os cortiços do Centro da
cidade eram focos de insalubridade. A solução encontrada pelo
governo foi a vacinação em massa obrigatória e, a derrubada dos
cortiços. Aproveitando-se da situação Pereira Passos abriu
avenidas e construiu prédios modelados ao estilo francês. O
objetivo era modernizar o Centro do Rio, até então, Capital da
República. Os moradores dos cortiços, mais uma vez, sem nenhum
projeto prévio de moradias, foram arrancados de suas casas e
deixados ao “Deus dará”. Sem ter para onde ir aumentaram as
populações dos morros que circundam o Centro da Cidade. Foi assim
que o Morro da Conceição, Morro da Providência e outros adjacentes
foram sendo desmatados e ocupados de maneira irregular e insalubre.
Diz o ditado: “oque os olhos não vêm, o coração não sente”
e, Até hoje, quem sobe o morro da Conceição e Morro da Providência
pode perceber de imediato o descarte irregular do lixo produzido pela
população, um dos vestígios deixados pela falta de
governabilidade.
Não havia outra
alternativa, o trabalho estava no centro nervoso do Rio e a
interiorização só teve exito com a remoção forçada iniciada nos
anos 70. Antes do projeto de remoção se iniciar, argumentou-se
muito a possibilidade de urbanização das favelas. Foram muitas as
discussões, mas como veremos a seguir a especulação imobiliária
foi vitoriosa. Remover ou urbanizar? Hoje podemos perceber que faltou
uma projeção eficaz, ou mesmo, uma visão mais humanitária para
com os destituídos de suas casas.
De uma maneira bem
simples podemos descrever a saga da população pobre que ocupou as
primeiras moradias do Rio de Janeiro:
A cidade era uma grande
extensão alagadiça, com brejos e poças d'águas. As moradias, por
essa razão eram feitas no alto do Morro do Castelo- A derrubada do morro, iniciado pelo
então prefeito Pereira Passos e, totalmente executado pelo prefeito Carlos Cezar de Oliveira Sampaio, o espaço que compreendia todo o Rio de
janeiro habitável desaparecera do mapa, levando consigo a certidão de nascimento do Rio de Janeiro. Com os aterramentos foi aberta a primeira rua,
que inicialmente chamou-se Rua Direita, porque ao se descer o Morro
do Castelo virava-se à direita para ganhar o logradouro.
Posteriormente passou-se a chamar rua Primeiro de Março.
Pereira Passos formou-se
Engenheiro Civil na Escola Militar do Rio de Janeiro em 1856, atual
Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas,
foi quando estudou na França-1857 à 1860, que se encantou com a
reforma urbana promovida pelo então Prefeito Haussmann. Ao voltar
para o Brasil, Pereira Passos foi nomeado Consultor Técnico de Obras
Públicas do Império-1870. A partir daí começou a empreitada
delegada a ele pelo Imperador Pedro II: “O Plano Geral de
Reformulação Urbana”.
Passos vislumbrou o
trabalho de Haussmann e, por essa razão, preocupou-se, não somente
com o visual,mas com a crescente insalubridade que assolava as ruas
do Rio de Janeiro.
Mas, foi somente com o
advento da República que, nomeado prefeito da Guanabara pelo então
Presidente Rodrigues Alves, conseguiu colocar em ação o Projeto de
Reformulação Urbana, agora apelidado de operação “Bota abaixo”.
A razão da alcunha foi a grande quantidade de cortiços que foram
derrubados para construções de Avenidas e prédios. Os surtos de
malária chegaram aos extremos e, foi preciso que Rodrigues Alves
contratasse os serviços do então médico sanitarista Oswaldo Cruz;
que enfatizou a vacinação em massa da população.
A população se revoltou
com as arbitrariedades impostas pelo governo: vacinação em massa e
derrubada de cortiços. Os bondes, naquela época o transporte urbano
utilizado pela massa de trabalhadores, sofreram atentados. Muitos
foram virados e incendiados. A Polícia Militar empreendeu uma guerra
contra os insurgentes. As ruas do Rio de Janeiro viraram um palco de
guerra. O saldo triste: 30 mortos, 110 feridos, cerca de 1000 detidos
e centenas de deportados.Não é difícil de imaginar o local que
abrigou toda essa gente desalojada pelo governo. É importante
ressaltarmos que não havia transporte para o subúrbio. O interior
suburbano era um imenso vazio, inabitável. A esperança de trabalho
e sobrevivência concentravam-se no Centro da Cidade. Por isso, não
é difícil de prever o ocorrido com esses moradores que foram
expulsos de suas moradias. Muitos tiveram que morar com outras
famílias, outros subiram os morros adjacentes como o Morro da
Providência, Morro da Conceição e Morro de Santo Antônio. Uma
outra parte de desabrigados partiram em direção do subúrbio, dando
início a um longo processo de favelização e interiorização das
massas.Na Biblioteca de Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro,
encontramos o Relatório apresentado ao Sr. Dr. J.J. Seabra
– Ministro da Justiça e Negócios Interiores, datado de 1906.
Neste relatório podemos ter a ideia mais complacente e real do Rio
de Janeiro à época das reformas do então prefeito Pereira Passos:
“ A situação da
classe pobre era, pois, das mais precárias, apezar de haver no Rio
actualmente muito trabalho bem remunerado. Mas por isso mesmo de
todos os lugares circunvizinhos chegavam diariamente camponeses que
trocavam o serviço da roça pelas ocupações de operários. Havia
como que uma sucção pneumática em torno do Rio. A população
pobre augmentava sem que augmentasse o número de casas”.
“...Estavam as cousas
neste pé, quando, com a subida ao governo do Sr. Rodrigues Alves
(1902), começou-se a fazer a transformação do Rio de Janeiro. Os
Senhores Lauro Müller, Ministro Das Obras Públicas, e Pereira
Passos, o prefeito, remodelaram a cidade abrindo ruas e avenidas e
derrubando casas. Por outro lado, o Sr. Doutor Oswaldo Cruz, diretor
da Saúde Pública, ordenava o fechamento de um sem número de
cortiços e das grandes casas divididas em cubículos, por
considerá-las prejudiciais à salubridade e a hygiene, e os
engenheiros municipaes faziam demolir outros tantos cortiços, por já
estarem cahindo apodrecidos e velhos, com perigo de vida para os
moradores”5
A modernização do Rio
de Janeiro, através de um projeto audacioso, mas, ao mesmo tempo,
sem planejamento que favorecesse a classe mais pobre, custou à cidade
o crescimento desordenado. Os moradores não tiveram alternativas.
Uma ideia do ocorrido descaso com a população reside na
continuação do mesmo Relatório enviado ao Ministro da Justiça
J.J. Seabra:
“...Ora todas essas
derrubadas e fechamentos, se vinham sanear a cidade, como de facto
vinham, por outro lado punham a população pobre em diffíceis
contingências. Que sucedeu?
Como não
havia casas baratas em número suficientes , essa gente se foi
agglomerando nas outras habitações próximas ou então se mudou
para os subúrbios.Todos os preços de casas se elevaram e então se
viu que essa parte da população pagava relativamente mais caro o
seu alojamento que as classes mais remediadas – e morando em casas
immundas e menos hygiênicas”.6
A primeira rua do Rio, "Rua Direita", posteriormente "Rua Primeiro de março, margeava a orla que hoje compreende o bairro Castelo, Praça XV e
Praça Mauá. Uma reta que tinha como limites quadrilátero o Morro
do Castelo, Morro do São Bento, Morro da conceição e Morro de
Santo Antônio. Na Xilografia de James Forbes, de 1765, podemos ter
uma idéia desses limites.
F1-Xilografia de James Forbes- 1765 Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. |
Quando a rua Direita
ficou pronta a população desceu o morro, outras ruas foram abertas
e, os primeiros cortiços construídos. Sem qualquer planejamento e
total falta de higiene essas construções coletivas tornaram-se
sinônimo de lugar insalubre e pessoas desocupadas.
O século XX acordou com
a necessidade de se modernizar a capital do Brasil. O Rio de Janeiro
tinha fama de Cidade insalubre e, tal fato, impedia os investimentos
internacionais e afugentava os estrangeiros. Pereira Passos, recebeu
a missão de Rodrigues Alves e, o projeto “Bota Abaixo” começou
a destruição do Morro do Castelo e dos cortiços. Foi ai que,
verdadeiramente, o traçado que compreende as favelas cariocas
começaram a se desenhar.
Augusto Motta, no início
do século XX foi o fotógrafo oficial do Estado. Abaixo podemos
observar a foto tirada durante a demolição do Morro do Castelo, em 1922, no governo do prefeito Carlos Sampaio. A direita podemos ver s fundos da biblioteca Nacional.
F2-
Esplanada do Castelo – demolição do Morro. Foto de Augusto Motta
-1922
Com a intenção de
modernizar a capital brasileira o Centro do Rio passou pelo que foi
denominado de Belle époque – uma alusão as cidades francesas.
Em mais uma foto tirada
por Augusto Motta observamos a rua Direita ainda no início do século
XX:
F3-
Rua Direita -Acervo Augusto Malta – 1920
O Plano de modernização
da Capital implementado por Pereira Passos gerou um alto custo
social. Sem um planejamento adequado que visasse moradias dignas para
os moradores dos cortiços, a Cidade acordou na segunda metade do
século XX com um problema que preocupa até hoje os governantes
quando se trata de planejamento urbano: o crescimento das favelas.
É necessário lembrarmos
que a esmagadora maioria da população que habitavam os cortiços e
favelas eram negros e mulatos. A Abolição do negro tardia causou a
queda do Império e, consequentemente, a Proclamação da República.
As classes dominantes, em contra partida, substituíram a mão de obra
negra pela dos imigrantes europeus. Segundo Ribeiro (1995,p.222):“A
nação brasileira, comandada por gente dessa mentalidade, nunca fez
nada pela massa negra que a construíra. Negou-lhe a posse de
qualquer pedaço de terra para viver e cultivar, de escolas em que
pudesse educar seus filhos...”
Grande parte desse
contingente recém liberto ocuparam a cidade, talvez por ser um
ambiente menos hostil. Ocuparam espaços onde pudessem expressar os
seus costumes e,firmarem-se na sociedade. Assim nasceu a favela. Uma
alternativa, até hoje, aos pobres na luta pela sobrevivência e
aceitação de si mesmo. Um lugar onde a sua identidade poderia ser
exercida. A favela adquiriu, desde a sua origem, sinônimo de
resistência, seja pelo samba, rap, pagode, ou outras denominações
culturais. Quanto ao assunto Ribeiro (1995,p.222) comenta:
“Constituíram, desde então os bairros africanos, que deram lugar
às favelas. Desde então, elas vem se multiplicando, como a solução
que o pobre encontra para morar e sobreviver. Sempre sobre a
permanente ameaça de serem erradicados ou expulsos”.
É na favela que surge a
mais pura expressão cultural negra. O negro que vem do interior teve
que se adaptar aos costumes dos que já estavam nas favelas. Esses
por sua vez faziam ecoar pelos becos e vielas os seus cantos
africanos e; já balançavam o corpo num ritmo compassado e
ordenado. Foram os gingados dos primeiros passos que se tornaram o
que hoje nós chamamos de samba. Está aí a identidade primeira do
Rio de Janeiro, a gênese do povo alegre, festeiro e que gosta de
cantar e sambar. O povo da favela que apesar da origem sofrida tem o
mérito de introduzir suas culturas em nosso cotidiano. Suas raízes
são nossas expressões culturais. Ribeiro(1995, p. 223 ) comenta : “
...O negro urbano veio a ser o que há de mais vigoroso e belo na
cultura popular brasileira. Com base nela é que se estrutura o
nosso carnaval, o culto de Iemanjá,a capoeira e inumeráveis
manifestações culturais”.
Concluímos que, a
população urbana quando largada a esmo, lançada à sua própria
sorte; tem o poder de se reerguer e de se manifestar. Fazem o que
podem para nunca esquecer suas raízes, pois, é justamente esse o
seu sopro de vida; sua lança, seu escudo, a arma do guerreiro. Ainda
no comentário de Ribeiro(1995,p.204) temos: A própria população
urbana, largada ao seu destino, encontra soluções para o seu problema. Aprende a edificar favelas nas morrarias mais
íngremes...”
REMOÇÃO E ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA
É certo que, para chegarmos ao desenvolvimento sociocultural e politico da Cidade Alta, tema desse trabalho, tínhamos a convicção de que a prévia até agora descrita seria necessária. Sem essa prévia nossas pesquisas não fariam sentido. Assim, nos ocuparemos desse capítulo com a missão de tentarmos entender melhor o plano de remoção. É necessário, atentarmos para o objetivo e trabalho das instituições envolvidas para que possamos, realmente, chegarmos a conclusões mais concretas e elucidativas.
Preconceitos,
erradicação,exclusão; proteção ambiental, insalubridade, todos
esses pormenores estão incluídos, ou não, no pensamento de
congressistas que, no passado estiveram diretamente envolvidos com a
remoção de favelas, ou melhor dizendo, de pessoas. É certo que
esse trabalho não esgota o assunto, pois, as razões especulatórias
do tema são diversas. Passemos então mais adiante para tentarmos
entender o plano de erradicação, desenhado pelos militares.
O plano dos militares era
de erradicar as favelas do Rio de Janeiro em seis anos. Os
planejamentos que se seguiram orquestraram a remoção e,
redesenharam o aspecto geográfico da Cidade do Rio de Janeiro ; As
idéias colocadas em pratica modelaram o futuro de milhões de
famílias.
No capítulo anterior
citamos o “Cabeça de Porco”, favela desmantelada pelo então
prefeito da Cidade Barata Ribeiro. Já naquela época comentava-se
que os barracos eram focos insalubres e deixavam a Cidade feia. É
bem verdade essa afirmação, mas os registros midiáticos deixam
transparecer, de maneira bem explicita, os interesses especulatórios.
A intenção declarada
era urbanizar e livrar o Rio de Janeiro de focos insalubres. Não há
registros, por exemplo, de projetos voltados para os moradores que
eram expulsos de suas casas. Não havia essa preocupação para com
essa gente.
Não é difícil perceber
o descaso com que esses moradores foram tratados. Arrancados de suas
casas sem qualquer assistência. Deixadas ao “Deus dará”,
estimados em duas mil pessoas, subiram o Morro da Providência e
contribuíram para engrossar a massa da primeira favela brasileira.
Os jornais da época não
deixaram de registrar, também, além do Prefeito Barata Ribeiro a
presença de representantes de empreiteiras ligadas ao ramo
imobiliário na derrubada do Cabeça de Porco. Esse fato reforça o
interesse mobiliário pelo local.
Em 1962, sessenta e nove
anos após a derrubada do Cabeça de Porco, o então Governador da
Guanabara Carlos Lacerda cria a COHAB-Companhia de Habitação
Popular do Estado da Guanabara. A estratégia de Lacerda em criar a
COHAB como uma companhia de empresa mista, ou seja, uma empresa semi
estatal ; onde o governo possui 51%(cinquenta e um por cento) das
ações; possibilitou o controle total, político e administrativo
pelo Estado; dando-lhe total autonomia na compra e expropriação de
terrenos para construção de casas.
A normalidade desse
processo, talvez, prevalecesse, se Lacerda juntamente com seu grupo,
não se apropriasse dos 49%(quarenta e nove por cento) de ações
restantes da COHAB, permitidas no setor privado. Comprando e
expropriando terrenos e propriedades, Lacerda idealizou a remoção de
favelas através da COHAB. Assim, com a construção de futuros
conjuntos habitacionais entre 1962 e 1965, cerca de 42000 pessoas
foram empurradas para o subúrbio. Fica explicito que Lacerda e seu
grupo de acionistas aproveitaram-se da remoção de favelas.
Na obra “Educação
e Favela” , Victor Vicente Valla nos revela que o papel da
COHAB vai muito mais além de uma construtora de casas populares:
“Como
outras instituições de remoção, a proposta inicial explícita da
COHAB colocava-se como uma instituição que trataria também das
tarefas de assistência às favelas para melhorá-las, construir
casas e urbanizar, para isso contando com a ajuda da Fundação Leão
XIII. Na prática, além de construtora de casas
populares(principalmente, mas não apenas), a COHAB, também, vai
atuar no trabalho social julgado necessário na remoção das favelas
para preparar sua população “inculta” para o translado da
futura residência nas casas da COHAB”.7
Nos terrenos valorizados
que eram desocupados pelos favelados, comprados pelos
especuladores-acionistas da COHAB foram construídos prédios de luxo
destinados à classe média.
Um exemplo desse processo
é o espaço onde antes se localizava a Favela da Praia do Pinto, no
bairro do Leblon, Zona Sul da Cidade, ao lado do Clube de Regatas
Flamengo. Um incêndio até hoje de “causas ignoradas” destruiu
centenas de barracos e agilizou a remoção. Hoje o local ostenta o
“Selva de Pedra”, conjunto habitacional destinado à classe
média.
O assunto bem comentado à
época dividia opiniões. A elite burguesa preferia a remoção,
assim não precisariam conviver com a pobreza e a falta de segurança
ao seu lado. Alguns especialistas na área ambiental diziam que era
mais barato urbanizar. Outros diziam que era preciso preservar a Mata
Atlântica. Os mais radicais enxergavam a favela como um antro de
marginalidade, esconderijo de ladrões e local insalubre que
favorecia a proliferação de enfermidades.
As pessoas acostumadas à
convivência em suas casas, com laços de família , amizades e
compadrio, já haviam desenvolvido uma espécie de bairrismo na
favela. O trabalho próximo de casa amenizava a jornada cotidiana; os
novos blocos que surgiam na comunidade contavam a história do local
e, isso enchia de orgulho os moradores . Não era só as suas casas
que eram obrigados a abandonar, mas uma certa cultura que aos poucos
foi se desenvolvendo e se enraizando na memória. A simples ideia de
deixar a casa, amigos e ir morar a 30 quilômetros do Centro da Cidade
traumatizava. Prestemos atenção no depoimento de uma moradora no
site: www.favelatemmemoria.com.br que foi removida da Favela da
Catacumba:
“Foi
difícil me acostumar com o subúrbio. Chorei muito na hora de ir
embora, confessa Margarida Siqueira da Silva, ex-moradora da favela
da catacumba, onde foi criada. Ela viu a comunidade ser demolida em
1970 para a construção de apartamentos de luxo na Lagoa Rodrigo de
Freitas. -Todos os meus amigos moravam na Catacumba, lembra
Margarida.”8
A Zona Oeste era um
imenso vazio. Sem infraestrutura, transportes precários e muito
longe do Centro da Cidade. Das favelas que foram destruídas entre os
anos 60 e 70, dentre elas: Praia do Pinto, Catacumba, Pasmado, Macedo
Sobrinho e Esqueleto, aproximadamente 40 mil pessoas foram morar na
Zona Oeste.
O trajeto cotidiano que
os novos moradores foram obrigados a utilizar de casa para o trabalho
e vice-versa, até hoje, faz da Avenida Brasil – via de grande
importância que liga a Zona Oeste ao Centro do Rio – um tapete
caótico de engarrafamento de carros. O planejamento urbano, já
naquela época, não se deu conta desse infortúnio; ou não atentou
para o crescimento populacional da Cidade, ao menos, 20 anos depois.
A via, hoje em dia, após mais de 40 anos da remoção, passa por
constantes manutenções ocasionadas pelo grande fluxo de veículos
diários que não param de aumentar.
A COHAB do então
governador da Guanabara, passa a comprar terras na Zona Oeste para
dar continuidade aos planos de remoção de favelas da Zona Sul e
adjacências. Extinta esta, é substituída pela CEHAB que tenta
seguir o mesmo ritmo. A supervalorização dos terrenos encarece as
casas populares, mas o plano do governo é vender as áreas
desocupadas pelas favelas e negociá-las no mercado imobiliário.
Apreciemos o texto do Jornal do Brasil de 16 de dezembro de 1979:
“A CEHAB
se transformou na maior compradora de terras da Zona Oeste do
Estado, com um estoque de terrenos de 4,5 milhões de metros
quadrados. Como sempre compra à vista e só áreas extensas, pode
conseguir preços melhores. O alto preço do terreno urbano é um dos
maiores obstáculos do barateamento da casa popular. Com o estoque de
terras já formado e as áreas recentemente doadas pela União, a
empresa já pode programar a construção de 15 mil unidades na Zona
Oeste.9
Podemos concluir que o
Governo Lacerda inaugurou entre 1962 e 1965, todo o processo de
remoção que viria a acontecer entre 1969 e 1973. As instituições
inseridas no programa, desempenharam papéis imprescindíveis no
controle autoritário que se exerceu sobre os favelados. A obra
“Educação e Favela” sintetiza bem essa afirmação:
“Outra
medida importante foi a definitiva incorporação da Fundação Leão
XIII ao Estado. A mudança em algumas instituições e a criação de
outras, criaram a base institucional para execução de uma
estratégia de controle autoritário dos moradores de favelas pelo
Estado-Levada a cabo pelo então governo Lacerda. De uma certa forma
a relação Estado-Favelas que se estabeleceu entre 1962 e 1965, foi
uma antecipação do que viria a acontecer a partir de 1969 até
1973. Pode-se dizer que o governo Lacerda, expressou, mais
diretamente os interesses do empresariado imobiliário e financeiro,
da cúpula da Igreja Católica carioca e dos setores conservadores
das camadas médias”10
Após o governo de
Lacerda, Negrão de Lima, o seu sucessor, fica entre o dilema :
urbanizar ou remover? As verbas do BNH -Banco Nacional de Habitação,
que fortalecia o programa – já estava com o seu caixa abaixo da
expectativa- Negrão de Lima, então, opta por fazer as duas coisas,
remoção e urbanização.
O plano da CHISAM –
Coordenação de Habilitação de Interesse Social da Área
Metropolitana - órgão criado pelos militares – era erradicar as
favelas do Rio de Janeiro em aproximadamente 6 anos. Em 1968, 0
ministro General Albuquerque Lima traçou um plano para amenizar a
crise habitacional. Tratava-se da construção de 150 mil casas
populares, que abrigariam 450 mil favelados. O plano do general
baseou-se nas áreas não aproveitadas dos governos estadual e
federal que seriam doados à COAB. Seriam construídos imóveis de 62
metros quadrados de área, cabendo aos compradores o acabamento
final. Qualquer favelado poderia se candidatar, bastando para isso a
apresentação da carteira de trabalho. A prestação mensal seria de
49 cruzeiros novos. Levando-se em consideração que o salário
mínimo vigente em 1968 era de Ncr$ 129,60 (cento e vinte e nove
cruzeiros novos e sessenta centavos), o novo proprietário teria de
gastar mais de um terço do seu soldo mensalmente. Para os parques
proletários foram os que não tinham condições nenhuma de pagar
pela nova moradia. Dizia-se a esses desafortunados que ficariam ali
até suas casas ficarem prontas. O Jornal do Brasil na
edição do dia 16 de dezembro de 1979, dez anos depois da remoção
de 1969, publicou a seguinte entrevista de um ex morador removido de
seu barraco:
“Quando
botaram a gente aqui, disseram que era por pouco tempo, até que
ficassem prontos os conjuntos lá na Fazenda Botafogo. Já estou aqui
há seis anos com 11 crianças, minhas e de parentes, numa casa que
não dá prá gente andar direito”.Elvira Ribeiro da Rocha é
moradora numa casa de triagem germinada no “Cavalo de Aço”, como
é conhecida uma gleba do conjunto Miguel Gustavo em Santíssimo.
“Só mesmo botando fogo
nos quatro cantos do mundo. Me tiraram do céu e me botaram no
inferno.Isso aqui parece um chiqueiro. As crianças dormem todas
jogadas pelo chão. E ainda por cima não resolvem o problema desse
atraso ( José Enedino de Brito – Pedreiro, morador da gleba
Carinhoso do conjunto Miguel Gustavo).
Num momento de desespero,
José Enedino desabafou. Depois de discutir com um dos funcionários
da Administração local da CEHAB por causa de CR$ 8 (oito cruzeiros)
de juros no atrazo do pagamento da taxa de ocupação da casa de
triagem onde mora, a CR$ 95 (noventa e cinco cruzeiros por mês).11
Na Biblioteca do Arquivo
da Cidade do Rio de Janeiro, esta o livro da CHISAM –
elaborado pelo Banco Nacional de Habitação e o Ministério do
Interior. Nesse livro consta, passo à passo, todos os procedimentos
adotados pelos militares referentes a grande remoção de favelas que
se empreendeu a partir de 1968.
O cálculo da erradicação
iria de 1971 à 1976 com a construção de 92.000 moradias por ano.
Esperava-se que em meados de 1976 não houvessem mais pessoas morando
em barracos. Para que o plano de remoção desse certo, a CHISAM
iniciou o cadastramento dos barracos e de seus moradores através de
pesquisas encomendadas. Com o levantamento adquirido teriam como
saber o tipo de moradia que teriam que construir. Se os moradores
iriam para uma casa de 3 quartos, 2 quartos, 1 quarto ou parques
proletários.
Essas pesquisas eram
encaradas com muita desconfiança por parte dos moradores. Houve
vários registros de manifestações de resistências. Os agentes de
pesquisa eram confundidos com a polícia, fiscais do governo e
colaboradores. São conhecidas, desde os fins da década de 30,
esforços para equacionar esse grave problema. São conhecidos os
programas de urbanização desenvolvidos pelo SERFHA-Departamento de
Recuperação de Favelas do Estado- e por outras entidades privadas e
oficiais.
As verdadeiras intenções
da CHISAM, segundo seus idealizadores, em relação a remoção,
estão estabelecidas no livro que guarda o seu projeto:
“Orientavam-se os
programas dessa época no sentido da modificação do STATUS social
dos favelados, por meio da erradicação total das favelas e
transferência dos seus moradores para conjuntos residenciais de
“casa embrião”, suscetíveis de ampliação pelo novo
proprietário. Os objetivos foram parcialmente atingidos e, na
atualidade são encontrados nessas vilas residenciais totalmente
diferentes das originalmente construídas”.12
Um dos paradoxos dessa
afirmação encontra-se na certeza de que as vilas estavam diferentes
de sua estrutura original. Na verdade, hoje, as famosas “puxadinhas”
que os moradores fizeram ao longo dos anos em suas casas, deixaram os
conjuntos habitacionais com uma visão degradada. A desorganização
imperou. O plano da CHISAM, para a construção de novas moradias
para suprir o aumento per capita da população não foi adiante. A
população cresceu em um ritmo bem mais acelerado e, as famílias
sentiram a necessidade de mais espaço. Daí surgiu o aumento das
casas e, no entorno dos conjuntos a manutenção das favelas. A
projeção per capita anual, que previa a construção de mais
módulos residenciais, prevendo o crescimento da população das
favelas, não foi adiante. Diante desse quadro as gerações foram
crescendo e, sem um planejamento adequado para o desenvolvimento
sociocultural da população; a visão arquitetônica sofreria a
degradação desses espaços habitacionais.
É importante
ressaltarmos que o BNH – Banco Nacional de Habitação – foi
criado em 21 de agosto de 1964 – ano e mês do golpe militar. Para
que a instituição pudesse caminhar e executar o plano militar
habitacional; criou-se ,também, o Sistema Financeiro de Habitação,
o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e toda a legislação
pertinente à construção de moradias para a classe de baixa renda.
O que dá veracidade a essa afirmação é, o próprio livro da
CHISAN – espelho do pronunciamento militar no que diz respeito ao
plano de habitação - elaborado em 1971 no governo do então
presidente Garrastazu Médice:
“Um papel de relevância
deve ser atribuído à lei 4380, de 21 de agosto de 1964, que criou o
BNH, do qual se originaram o Sistema Financeiro de Habitação, o
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e toda a legislação que
tornou possível um equacionamento realista da problemática
habitacional das famílias de baixa renda.
No caso específico da
área abrangida pelo Grande Rio, a falta de ritmo satisfatório no
atendimento à demanda habitacional de baixa renda levou o BNH a um
exame mais aprofundado da questão, tendo sido constatado que as
dificuldades principais que impediram a solução do problema de
habitação de baixo custo residiam fundamentalmente em:
1- Falta de recursos e
investimentos por parte dos governos dos Estados em seus planos
habitacionais, particularmente na área de baixa renda;
2-falta de terreno,
econômica, técnica, social e urbanisticamente utilizáveis para a
construção de habitações de baixo custo;
3-diversificação de
órgãos públicos e privados atuando sobre os mesmos problemas, de
forma desordenada e individual, conduzindo à pulverização de
recursos;
4-falta de
estabelecimento, consolidação e continuidade de uma política de
habitação de baixo custo no Grande Rio, o que vinha impedindo
decisões coerentes e objetivas;
5-multiplicidade de
soluções e improvisações, sem coordenações de trabalho e
finalidades objetivas;
6-O próprio
dimensionamento atingido pelas favelas revelava a necessidade de o
assunto ser analisado sob outros prismas. A variedade de idéias,
recomendações, planos e projetos apresentados ao Governo Federal
com vistas ao problema das favelas, levou a que o Ministério do
Interior desencadeasse um processo de atuação intensiva junto aos
governos estaduais e entidades privadas ligadas ao assunto, de forma
a efetuar um trabalho coordenado capaz de gerar soluções objetivas
em prazo hábil”13
O governo militar que se
instalou no mês de agosto de 1964 não perdeu tempo quanto ao
projeto de remoção de favelas no Rio de Janeiro. Cinco meses
depois, agosto do mesmo ano, criaram o BNH – Banco Nacional de
Habitação – responsável pela pesquisa de campo realizada,
objetivando a erradicação de favelas. Três anos mais tarde criaram
o FGTS que foi, naquela época, uma troca de benefícios; ou seja,
essa medida, veio para acabar com a instabilidade que o trabalhador
usufruía na empresa quando completava dez anos de trabalho.
O curto prazo em que o
plano de erradicação foi elaborado nos leva a acreditar que, se os
militares já não tinham esse plano engavetado, no mínimo já
pensavam na possibilidade. Há uma critica explicita aos governos
estaduais e entidades privadas quanto a construção de casas para a
erradicação das favelas. O governo militar, através do relatório
do BNH, os desqualifica, mencionando-os como incapazes de dar conta
de tal empreitada. Há, porém, um fato histórico que pode
desmistificar pelo menos em parte todo esse discurso. O pleito
eleitoral de 1965 , deu posse a dois governadores que não haviam
sido indicados pelos militares: Negrão de Lima no Rio de Janeiro e
Israel Pinheiro em Minas Gerais. Setores ligados à ditadura militar
fizeram de tudo para promover a ingovernabilidade desses governos.
Dessa maneira, o governo
militar negou, de maneira velada a infraestrutura necessária para a
continuidade e sucesso da erradicação. A falta de planejamento
urbano comprometeu o sucesso da remoção. O transporte urbano,
precário e quase inexistente, gerou um custo adicional de tempo e
dinheiro para as famílias, principalmente àquelas que foram morar
na Zona Oeste da cidade. Com o fim da ditadura militar em 1986, o BNH
fecha as suas portas e , os recursos destinados à construção de
casas destinadas à famílias de baixa renda são suspensos.
O BNH gerava receita
através do Sistema Financeiro de Poupança e Empréstimo, após
1967, concentrava, também, poupanças populares compulsórias
através do fundo de garantia de tempo de serviço. Segundo Valla
(1986), o poderio econômico do banco tornou-se assim muito grande.
Em 1973, por exemplo, controlava quase seis por cento do valor do
produto nacional bruto e em 1975 cerca de dezesseis bilhões de
dólares.
O BNH foi criado com o
intuito de favorecer a classe de baixa renda, facilitando a aquisição
das unidades nos conjuntos habitacionais. Valla argumenta esta
questão e enfatiza o não cumprimento dos compromissos da
Instituição:
“Os objetivos
declarados do BNH que constam de seu projeto de fundação,
desdobram-se a partir da proposta de: “fomentar a construção e a
aquisição de moradias, sobretudo por pessoas das classes de baixa
renda”. Eram objetivos explícitos do BNH:
1-Estímulo a indústria,
principalmente a de base ( aço e bens intermediários);
2-Criação de muitos
empregos;
3-Canalização da
poupança popular para investimento de longo prazo; combatendo dessa
forma a inflação;
4-Reativar mercados de
capitais;
5-Elevar a qualificação
de trabalhadores e a produtividade;
6-Resolver o “problema
da favela”.
Os primeiros objetivos
estão ligados a medidas econômicas visando a recuperação da crise
econômica então existente na economia brasileira, pois o estímulo
à construção civil pelo Estado tem se constituído numa medida
importante no combate ao desemprego, na ampliação do consumo e na
reativação da indústria dentro do sistema capitalista. O último
objetivo visa mais especificamente um alvo de natureza político –
social, qual seja: a diminuição das “tensões” sociais
provocadas pelas favelas. A solução do problema favela, visto como
essencialmente uma questão de défict de moradias urbanas.
Entre os objetivos não
explícitos pelo BNH pode ser incluida a busca de lucro, objetivo
este procurado por qualquer empresa capitalista. Por outro lado, a
medida em que o tempo vai passando, o Banco vem financiando uma
proporção cada vez maior de habitações para as camadas baixas ou
mesmo altas.
Embora de início os
principais objetivos do BNH tenham sido capturar a boa vontade das
classes sociais subalternas e “ contribuir para retirar a economia
da crise depressiva dos anos 1963-1967, o BNH transformou-se
efetivamente a partir de mecanismos instrumentalizadores – como o
FGTS – em poderoso mecanismo de acumulação, através do qual as
moradias construídas pelos trabalhadores não mais se destinam a
eles, mas às classes sociais de renda mais altas. Isto significa que
apesar de sua principal justificativa social ter sido a distribuição
de riqueza( através da moradia) para os trabalhadores pobres, o BNH
transforma-se em um instrumento de fortalecimento do capital. Através
de mecanismos que incidem sobre os salários FGTS ,por exemplo, o BNH
vai cada vez mais sendo um banco de financiamento dos investimentos
públicos e privados na indústria da construção civil, indo mesmo
além da construção de casas.14
Resolver os problemas da
favela e diminuir as tensões sociais. Estes foram os objetivos
declarados do BNH. Num momento de crise econômica, a construção
civil objetivou o controle da inflação. A simples remoção de
pessoas para lugares distantes, sem estruturas básicas que
atendessem os anseios de uma nova vida, provocou um desconforto total
na população de classe baixa. A favela vista como um problema
social que provoca tensões na sociedade, foi encarada como um mal
que incomodava a classe média, nas suas respectivas localizações
geográficas. A proposta era remover e não urbanizar. Por essa
razão não houve um consenso, um olhar que se posicionasse quanto as
verdadeiras das famílias que foram removidas. Uma melhor elocubração
e conclusão do referido está deferido nas palavras de Valla:
“Cabe
reter aqui o quanto o pensamento que orienta a proposta do BNH possui
de falso no tocante às justificativas de ajuda às camadas
populares. A importante justificativa até hoje utilizada de que o
BNH objetivava sobretudo “resolver o problema da favela” e
“diminuir as tensões sociais” , pressupõe uma visão seccionada
do fenômeno favela. A favela não é apenas uma alternativa aos
pobres à falta de moradias urbanas. A questão favela não se limita
apenas à questão de moradias, suas causas não se limitam ao defict
de moradias urbanas baratas. Essa visão tecnocrata da realidade
restringe-se a ver o mundo a partir da lógica da classe dominante,
desconhecendo que a favela é parte de uma estratégia mais ampla de
sobrevivência da parte da população favelada, que inclui outras
coisas além do não pagamento de moradias, ou seu barateamento
acentuado. Nela estão incluídas questões como: menos despezas com
os transportes face a maior proximidade com o trabalho, barateamento
de serviçõs através de uma rede informal de ajuda entre os
moradores; facilidade de “biscates” pelo fato de morar perto das
regiões mais ricas da cidade, etc.15
Em 1963, o governo
Lacerda aceitou uma parceria com a USAID- Agência para o
Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos. O governo Lacerda
via no projeto a oportunidade de ganhar notoriedade diante da
população favelada, pois sua imagem estava bem desgastada. Por
parte da USAID o objetivo era implementar programas assistencialistas
que abrangesse toda a comunidade pobre de países comunitários. O
aparelho ideológico estaria, assim, realizando o seu objetivo de
dominar e manter sobre controle a população favelada.
O programa, denominado
BENDOC – “Brasil e Estados Unidos – Movimento para o
Desenvolvimento e Organização de Comunidades”, teve início em
outubro de 1964, através de uma verba inicial de 450 mil dólares. A
fundação Leão XIII foi a instituição escolhida para gerir o
projeto. Valla nos dá a idéia da atuação desse aparelho
ideológico:
“ Ao mesmo tempo em que
absorvia totalmente o BENDOC em sua estrutura, a Fundação Leão
XIII aumenta seu controle sobre as melhorias em favelas, reativa
centros médicos e educacionais, aumenta os dispositivos
controladores junto às associações de moradores, enfim, novamente
amplia aos pouco sua capacidade de exercer uma dominação
ideológica, jurídica, política e até mesmo policial sobre boa
parte dos moradores de favelas do Rio de Janeiro”. 16
A partir daí é que
surgiu a CHISAM, a grande responsável pelas remoções de moradores
até 1973. Totalmente subordinada ao Ministério do Interior e do
BNH, a CHISAM foi criada através da idéia de que as favelas
constituiam um problema social. Se persistisse o programa do governo
Lacerda, o BNH e a Indústria de Construção Civil não seriam
beneficiados. As companhias de poupanças , créditos e finanças não
funcionariam. Tudo isso sem contar que continuaria a ocupação de
terras valiosas na Zona Sul do Rio.
Segundo o planejamento da
CHISAM, o número de barracos existentes na Área Metropolitana da
Cidade chegava a duzentos mil, com um total de um milhão de
moradores. Em 1968 seriam necessários 1,6 bilhão somente para
construção dessas habitações. Os recursos da poupança
mostravam-se insuficientes para a realização das obras, pois,
segundo o programa, havia muita famílias de baixa renda.
Eram necessário a
captação dos recursos federais e estaduais. Assim, os dois juntos
participariam de programa inovador. Poderiam usufruir dos resultados
da erradicação e, portanto, aumentarem seus pretígios junto a
mídia que representava a classe burguesa e, clamavam pela
aniquilação das favelas. Segundo o relatório da CHISAM:
Acrescentando s recursos
necessários à obras de infra-estrutura – abastecimento d'gua,
esgotos, iluminação-, assim como o valor dos terrenos e o custo
operacional dos organismos execultores, concluiu-se que o problema
não poderia ser resolvido a curto prazo. Tratando-se de famílias de
baixa renda, pouquissimos recursos originários de suas poupanças
poderiam ser adicionados aos investimentos governamentais. Era
necessário, porém canalizar recursos do governo dos Estados, do
governo Federal e de entidades privadas. Impunha-se ainda utilizar a
fôrça de trabalho dos próprios favelados. Em síntese, tratava-se
de instituir um sistema de soma de recursos apto para aumentar a
oferta de moradias a um nível igual à demanda provocada pelo
crescimento demográfico nas favelas. 17
Chamamos a atenção para
a citada demanda do crescimento demográfico, pois, adiante veremos
que ainda nos anos 70 a grande maioria dos moradores removidos
estavam com suas prestações muito atrasadas. Primeiro pela falta de
estrutura, seja ela urbana, na área de transportes, ou até mesmo no
que tange a inserção social. A real distribuição de renda que
deveria chegar aos favelados, que seria a aquisição da casa, não
aconteceu de fato. Muitos tiveram que vender o imóvel novo e voltar
para a favela. Tudo isso se deve também ao crescimento vegetativo da
população favelada.
Apesar do discurso de uma
nova vida aos favelados, com oportunidades de especialização da mão
de obra para a aquisição da renda; o que se viu, foi uma grande
diáspora de favelados que aos pouco tentou se afirmar em suas novas
moradias. A falta de estrutura mínima e a péssima qualidade dos
módulos fizeram com que, com o passar do tempo muitos voltassem para
a favela. Através do site www.favelatemmemoria.com.br
podemos compreender melhor este paragrafo:
“Pelo menos cinco
grandes comunidades da Zona Sul e da grande Tijuca foram destruídas
nos anos 60 e início de 70: Além da Praia do Pinto(no Leblon), as
favelas da Catacumba (na Lagoa) , Macedo Sobrinho (no Humaitá),
Pasmado (em Copacabana) e Esqueleto (na Tijuca). Juntas, elas
abrigavam cerca de 40 mil pessoas.Grande parte dos moradores
removidos foram transferidos para conjuntos habitacionais recém
construídos na Zona Oeste. “ A Cidade de Deus era muito isolada,
não tinha infraestrutura nenhuma para receber os moradores
removidos. Os moradores achavam estar fazendo bom negócio ao ser
transferidos para apartamentos no subúrbio. Eles só deram conta da
realidade quando chegaram lá. A Zona Oeste era um grande vazio. A
longa distância do Centro da Cidade, a precariedade dos transportes
e a infraestrutura ainda em fase de instalação, causou grande
descontentamento entre os removidos. Anos depois, alguns venderam
suas casas e voltaram a morar em favelas da Zona Sul.”18
O documento da CHISAM,
produzido pelo militares, parece nos dar a idéia de planejamento
ideal e, organizado. A preocupação com o bem estar dos moradores e,
a promessa de uma vida digna e promissora vigora por quase todas as
páginas do projeto. A voz de quem viveu a remoção de favelas, está
reproduzida em diversos trabalhos científicos a que temos acesso. Os
prós e os contras são, aos poucos decodificados pelas falas, já
embargadas desses moradores. Paralelo às declarações militares,
uma nova visão foi se descortinando, dessa vez, através da visão
dos principais atores envolvidos:
“ No auge da ditadura
militar, o governo federal criou um órgão chamado Coordenação de
Habitação de Interesse Social da Área Metropolitana do Grande Rio
(CHISAM), que tinha como objetivo principal acabar com todas as
favelas da cidade num prazo máximo de dez anos. De 1968 até 1975,
cerca de 100 comunidades foram destruídas e mais de 150 mil pessoas
removidas.
Houve pressão externa e
também muita especulação imobiliária. Políticos e construtoras
tinham interesse na desfavelização da Zona Sul. A verdade é que
foi uma questão de jogar o problema para longe. “Todos os
conjuntos habitacionais construídos nessa época depois se
transformaram em guetos”, afirma o sociólogo José Arthur Rios,
Coordenador de Serviço Social do Governo Carlos Lacerda e autor de
um dos primeiros estudos sobre favelas, nos anos sessenta.
Essa política
remocionista rende até hoje muita polêmica entre pesquisadores e
ex- moradores das favelas atingidas. Alguns dos principais líderes
comunitários teriam sido cooptados pelo governo para ajudar no
processo de cadastramento e na logística das mudanças. O Estado
passou a criar mecanismos de coação, troca de favores. Algumas
associações foram inclusive criadas pela própria Prefeitura para
facilitar as remoções.
Um dos casos mais
polêmicos foi a remoção, feita pelo Estado, da Favela da Praia do
Pinto, que ocupou até 1968 um local nobre da Zona Sul carioca, ao
lado do Clube do Flamengo, onde hoje existe o condomínio Selva de
Pedra, no Leblon. A dona de casa Maria Rosa de Souza Noronha, ex-
moradora da Praia do Pinto, deixou a comunidade uma semana antes do
incêndio (de causas ignoradas), que destruiu centenas de barracos e
apressou o término da operação de remoção.”19
O que vale muito
ressaltarmos no caso das remoções é a importância que foi dada ao
removidos de suas casas. O tratamento igualitário à todos os
favelados parece ter tomado proporções parciais, de modo a agraciar
aqueles que teriam melhores condições de pagar uma moradia. Talvez,
o despreparo do programa de remoção tivesse causado desconforto
aos desprovidos de bens já que ,os critérios utilizados eram
baseados em posses de bens duráveis. Há também a questão dos
Parques Proletários, instalações destinadas aos desprovidos de
posses, ou seja, aqueles que de maneira alguma tinham condições de
arcar com a prestação da nova moradia.
As famílias que se
destinavam aos Parques Proletários, chegavam lá com a promessa de
que era apenas uma questão de tempo até ficarem prontas novas
unidades habitacionais. Talvez, possamos evidenciar, a partir desse
fato, que essa parcela de gente foi ignorada pelo Estado, jogada a
esmo em seu incerto destino. O incômodo com as favelas já havia se
manifestado através do Código de Obras do Rio de Janeiro, em 1937 –
que já propunha a “eliminação completa das comunidades carentes
e a criação de parques proletários. Foram construídos entre 1941
e 1943 três parques, no Leblon, Gávea e Cajú, depois de alguns
anos, seus moradores seriam expulsos pela especulação imobiliaria.
A revista CHISAM –
1971- representou um achado na Biblioteca da Cidade por conter em
seu interior todo o pensamento militar no que diz respeito a remoção
das favelas a partir dos anos 1968. Ali está todo o processo do
projeto de remoção. No interior dessas páginas encontram-se os
pormenores, passo à passo, ou, ao menos aquilo que foi imaginado e,
o que de concreto poderia se viabilizar no proceso de remoção de
favelas. Vale ao historiador obstinado ao tema à apreciação do
documento, pois é raro e, talvez único. Justamente por causa da
importância e raridade dispensada ao documento, não podemos
escanear ou fotografar suas imagens, mas nos foi permitido copiar
grande parte do texto e; o trecho que define o plano de remoção
elaborado pelos militares segue abaixo, com exclusividade e na
íntegra:
“Quando da sua criação,
a CHISAM, após consulta ao BNH, estimou como viável um investimento
da ordem de CR$ 200 milhões na Área Metropolitana do Grande Rio,
até dezembro de 1970, recursos esses dos quais se somariam parcelas
consideráveis dos dois Estados.
Em junho deste ano,
segundo o gráfico, a população de favela esta estimada em torno de
465.000 habitantes. Com um programa de habitação para 92.000
pessoas por ano a partir de junho de 1971, podemos afirmar que, em
1976, não haverá mais população morando em favelas no Rio de
Janeiro. A construção de 20.000 unidades habitacionais, diminuiu
ano a ano 92.000 favelados na Guanabara. Dessa forma em junho de
1972, haverá, apenas 370.000 favelados. Esse procedimento é válido
para os demais anos.
Sabemos o quanto é
difícil planejar para que toda a população do Rio de Janeiro
esteja morando fora das favelas em período de 5 anos, principalmente
se levarmos em consideração que o Brasil é um país em proceso de
urbanização e que 50% de sua população mora na Zona rural, com
muito poucos claros de integração em áreas, nos quais os níveis
educacionais e especialização profissional aos fatores
determinantes dessa integração social nas zonas urbanas.
As favelas não nasceram
por geração espontânea – os locais foram escolhidos pelos
favelados, tendo em conta suas necessidades. De um lado a
inexistência de um plano adquado de desenvolvimento urbano elaborado
pelos governos locais impediu o recebimento e ordenação dos fluxos
migratórios. Não encontrando oportunidades de elevarem suas rendas,
de aprimorarem sua capacitação profissional ou de encontrarem um
mercado de trabalho que lhes garantissem uma integração total na
sociedade, essas populações se localizaram em subabitações.
*População estimada em
465.128 pessoas emjunho de 1971, com uma taxa de crescimento de 2,7%
ao ano.
De outra parte, os
vazios urbanos existentes na área Metropolitana do Grande Rio , de
propriedade do governo Federal e dos Estaduais, , assim como as
propriedades abandonadas ou mal aproveitadas por seus proprietários,
ainda hoje são uma alternativa que os favelados aproveitam para a
construção de seus barracos.
Levantamentos efetuados,
em 1964 revelaram que 23% das áreas faveladas do grande Rio
pertencem ao Governo Federal, 27% dos governos Estaduais e 44%
constituem propriedades privadas , havendo 6% de terrenos cujas
propriedades são duvidosas ou desconhecidas.
Não tendo os governos
dos Estados ingerência nas propriedades federais, não puderam
impedir sua invasão. A incapacidade financeira de utilizar suas
próprias áreas, aliada a auma infra-estrutura deficiente de
manutenção de seu patrimônio, facilitou a invasão e favelização
verificada. Com poucos locais disponíveis altamente valorizados e
inalienáveis, ou com as áreas possíveis de construção
localizadas fora do mercado de trabalho de seus eventuais e futuros
moradores, viram-se os governos dos Estados sem condições de
localizar razoavelmente as habitações de baixo custo.
Iniciou-se,
então, atrvés da Coordenação Geral de Transferência de Terrenos,
órgão do BNH, um levantamento de áreas de terras pertencentes ao
patrimônio da União e ao INPS, que não tivessem sendo utilizados
e se prestassem para programas habitacionais, tanto naárea do Grande
Rio como no resto do páis. Concluiu-se que só na Guanabara e
regiões circunvizinhas oferecia-se uma disponibilidade, localizada
no perímetro urbano, superior a 11 milhões de metros quadrados,
suficiente para cerca de 45 mil habitações.20
Já no início das
afirmações acima podemos perceber que o plano de erradicação da
população nas favelas não surtiram efeito. A falta de verba e a
não manutenção da população de favela vejetativa, já no final
dos anos 70, impediram a manutenção do programa. Sem contar é
claro com a população que despreparada para a nova impleitada
retornou para o seu local de origem.
Já era de conhecimento
do Governo Federal que metade da população brasileira era ruralista
e que o país, nesse momento encontrava-se em processo muito lento de
ubanização. O Governo Federal imputa toda a responsabilidade da
ocupação desordenada na cidade aos governos de Estado, incluindo-se
nesse desfecho a “incapacidade” de gerir seus próprios recursos,
deixando o espaço urbano incapacitado de recebe o fluxo migratório
de nordestinos que tomaram conta das encostas e locais nobre do Rio
de Janeiro.
Fica bem explicito também
que havia um consenso a respeito da capacitação educacional e
profissional desses novos citadinos. Não é analizado, porém, com
maior ênfase a proposta de um programa voltado para a capacitação
real de integração desse contingente dentro dos anseios da cidade.
Os levantamentos que
foram feitos pela CHISAM para apontar áreas do Governo Federal e
Estadual própicias ao plano de habitação deram-se todas na Zona
Oeste e Norte da cidade. Fica bem evidenciado que as áreas já
ocupadas pelas favelas – valorizadas por estarem em locais nobres
teriam que ser desocupadas. Não se percebe a possibilidade de
urbanização, os argumentos inclinam-se à uma só decisão,
enfática e soberana: erradicação já.
No referido documento da
CHISAM, podemos ter uma idéia dos primeiros contatos com os
moradores de favela. O relatórios feito pelo Conselho Comunitário
tinha como objetivo explícito a segregação daqueles que poderiam
ir para uma unidade habitacional e os que deveriam ir para os parques
proletários. Esse relatório trás na íntegra o parecer do Governo
Federal quanto à pesquisa elaborada e aplicada aos favelados. Um
processo de seleção que veladamente pode ter excluído uma grande
parte dessa população:
“O Conselho Comunitário
ou de moradores é uma sociedade representativa dos habitantes de um
determinado conjunto residencial. Seu objetivo: dar à população
consciência das suas reais possibilidades, conduzir a comunidade a
participar de seu próprio processo de desenvolvimento. Expandi-la,
enfim, sob os pontos de vista cultural, econômico e social,
preparando-a para a autodeterminação e perfeita integração na
sociedade.
Os primeiros contatos
estabelecidos com a favela feitos através da imprensa, escrita,
falada , televisionada, não de maneira desejada, porém, espontânea,
isto é, com a criação da CHISAM em março de 1968, imediatamente
surgiram as primeiras especulações em torno do novo órgão.
Ministros do Estado,
governadores, o coordenador da CHISAM, diretores do BNH, arquitetos,
engenheiros, sociólogos e estudiosos foram estrevistados e opinaram
sobre o assunto. As esperanças e críticas começaram a surgir.
A medida que a
programação, diretrizes e filosofia das atividades a serem
desenvolvidas pela CHISAM foram se concretizando, através de
documentos escritos, entrevistas oficiais e divulgação pela
imprensa; desabou nas favelas uma avalanche de comentários e
boatos sobre o que se pretendia realizar.
Sentia-se que havia
necessidade de concretizar-se algo que viesse despetar na população
favelada um pouco de credibilidade. Até novembro de 1969 a palavra
oficial da CHISAM não chegou às favelas.
A tática do diálogo,
até aquela data, baseou-se em duas premissas básicas:
a) dar início a um
programa de construção de habitações que pudessem vir a ser
adquirida pelos favelados e que de fato fossem a eles destinados.
b) Revelar publicamente
que só seriam removidas favelas que por motivos evidentes não
pudessem permanecer onde se situavam.
Mas em dezembro de 1968,
iniciou-se um programa de construção de 7.932 habitações em
diversos bairros da Guanabara e eram revelados as razões pelas quais
determinadas favelas deveriam ser removidas.
Durante o primeiro ano de
vida do órgão coordenador diversas dificuldades tiveram de ser
superadas, dentre as quais destacamos:
1- Fixação das
Diretrizes e do Programa
Enquanto eram construídas
as habitações , especulações de toda a ordem vinha à público.
Que as habitações não seriam para os favelados – remover uma
favela era um ato desumano, o certo era urbaniza-la ou melhorar com
paliativo do ambiente; a mudança do favelado iria gerar um colapso
financeiro; faltariam recursos e as obras não seriam concluídas, as
construções não seriam acessíveis aos favelados, efetuar um
programa de desfavelamento no Grande Rio geraria um fluxo migratório
que iria aumentar os problemas das favelas , entre outros.
Os únicos que não
opinavam eram os favelados. Uma infinidade de técnicos e
psedeutécnicos emitiam opiniões, defendiam teses, propunham
soluções, porém os interessados diretos ficavam mudos. Utilizando
o processo de trabalhar com dedicação e convicção de que
estávamos certos, virtualmente nenhuma crítica foi oficialmente
rebatida.
2- Atingimento das Metas
Preestabelecidas
A meta era realizar um
programa de construções de novas moradias de baixo custo, a curto
prazo, de cerca de 30.000 habitações. Em fins de novembro de 1969,
quando as primairas habitações estavam em fase de conclusão,
tornou-se necessário e oportuno os primeiros contatos direto com os
favelados.
Contratou-se, com o
Centro Nacional de Pesquisas Habitacionais (CENPHA), uma equipe de
sociólogos, engenheiros, arquitetos, assistentes sociais e
estudantes para o estabelecimento dos primeiros contatos com os
favelados.
A orientação básica
era de que
1- Em caso de reação ou
da maioria da população de determinada favela não concordar com a
remoção, que fosse procurada outra dentre as 64 selecionadas, onde
o ambiente fosse o mais favorável;
2- Que os favelados
fossem levados para ver as habitações construídas e as
características dos novos conjuntos.
Foram surpreendentes os
resultados destes dois simples procedimentos. O primeiro contato
direto que se estabeleceu com os favelados foi através de
notificações pela imprensa falada, escrita, televisada e por
comunicação oficial às entidades representativas da favela de que
, em dia e hora maracada, uma equipe de técnicos iria à favela para
fazer levantamento completo de sua situação. Via de regra os
favelados recebem informações sobre o local, tipos de habitações,
tamanhos, custos, condições de pagamento dos diversos tipos de
habitações disponíveis.
Paralelamente a essas
informações, é efetuada a numeração dos barracos, onde se
estabelecem em um croquis, setores da favela com barracos e
principais detalhes característicos de cada setor, tais como vielas,
ruas, bicas de água, biroscas, cultos, etc.
Numerados os barracos e
definidos os setores, são os mapas ou croquis distribuídos aos
“entrevistadores” que irão realizar o levantamento
sócio-econômico das famílias do setor que lhe compete.
Técnica de Levantamentos
Sócio – Economicos
Em seus levantamentos
sócio-econômicos e de história de vida das populações faveladas
a CHISAM vem usando dois tipos de entrevistas:
A- Entrevista aberta ou
qualitativa com questionários dirigidos para obter informações a
cerca da história da vida das populações faveladas (nesse caso são
entrevistados os líderes da favela, birosqueiros e associações de
moradores, chefes de terreiros, espíritas, pastores protestantes,
etc). Em nossos trabalhos de pesquisa só usamos esse modelo quando
desejamos levantar a história da favela.
Nesse caso as perguntas
são dirigidas para a origem da comunidade. Como os primeiros
moradores vieram e se intalaram no local. Que causa levaram essas
pessoas a preferirem esse lugar e não outro. Se esses moradores eram
de origem rural e não urbana. A quem pertencia o terreno na época
da instalação dos primeiros barracos, etc.
B- Entrevista Codificada,
com a finalidade de levantar as condições sócio-econômicas das
famílias. Esse método de comunicação é a principal técnica
usada, pois permite planejar a habitação adquada à população das
favelas. Como tal, é preciso que se disponha de informações de
cada família que mora na favela para a qual está sendo planejada a
moradia. Nesse nível de planejamento habitacional as decisões não
tomadas em relação à unidade familiar.
MODÊLO DE QUESTIONAMENTO
O questionamento para o
levantamento sócio-econômico é bastante simples e funcional. A
orientação que a equipe imprimiu foi a de que todas as perguntas
feitas devem fornecer dados para uma decisão. Assim sendo, o
planejamento da habitação para uma certa família baseia-se nas
perguntas que foram respondidas pela mesma.
É extremamente difícil
haver questões que satisfaçam plenamente os objetivos desejados.
Isto porque a favela é uma comunidade na qual o entrevistador é
obrigado a acreditar no que diz a grande maioria dos moradores, uma
vez que é quase impossível exigir um comprovante de suas
afirmações.
Uma das perguntas
fundamentais de nosso questionário é o número de pessoas que moram
no barraco. Com essa informação associada à da renda, decide-se o
tipo de moradia, se de um, de dois ou de três quartos, ou ainda
parque proletário, remanejamento ou cidade triagem, no caso de renda
insuficiente.
O número de filhios é
facilmente comprovado através da certidão de nascimento, o problema
é a confirmação da alegação do entrevistado, quando o mesmom diz
morarem naquele barraco um ou mais agregados. Aceita-se a informação
como certa, porque não há como verificar na carteira profissional,
carteira de saúde, ou atestado de residência, o número do barraco.
Estes documentos, quando muito, declaram a favela em que a pessoa
mora. A não aceitação dos dados pode levar a problemas maiores,
como a de planejar um tipo de moradia menor do que as necessidades da
família dos entrevistados. Em casos assim, solicita-se o documento
de identidade dos agregados, pois tal procedimento vem apenas
diminuir a chance de erro.
A segunda informação
mais importante de nosso questionário é a renda da família, que
possibilita a aquisição de uma residência pelo BNH – CHISAM –
COHAB.
A complexidade desse dado
é muito maior do que qualquer outro, pois a sua verificação é
muito mais difícil do que a do número de pessoas na residência.
O melhor comprovante de
renda para a equipe é o salário constante da carteira profissional
ou contra recibo de pagamento. Oque ocorre é que apenas uma pequena
porcentagem da mão de obra da favela pode comprovar o seu salário,
por meio da carteira assinada, ou contra recibo, uma vez que o o
empregador geralmente não declara salário efetivamente pago ao seu
empregado.
Cerca de 75% da mão de
obra encontrada nas favelas não são especializadas. Em geral, são
pessoas que prestam serviços como guardadores e lavadores de carros,
empregada doméstica, lavadeira, etc; não possuindo carteira
profissional, recibos ou documentos que comprovem a renda. Em casos
frequentes parte da renda pode ser comprovada, a outra , às vezes
maior do que a que consta da carteira profissional, é cíclica e
incomprovável.
Há uma instabilidade
muito grande no setor de mão de obra não especializada que abrange
a maioria da população. Uma família que hoje apresenta renda
suficiente para comprar uma habitação, um mês depois pode ter sua
renda diminuida com o desemprego de um de seus membros. Esse problema
se desdobra em duas partes:
a) Como comprovar a renda
real de um favelado que percebe, além do salário que está na
carteira de trabalho, um adicional incomprovável.
b) O morador está
empregado na data da pesquisa e se desemprega após se transferir
para o conjunto.21
É bem verdade que as
obras foram construídas, mas não terminadas. Os moradores tiveram
que completar, aos poucos, a casa que lhes foi entregue. O piso era
crú, no cimento puro, muitas casas não tinham pias ou snitários; a
água era precária, por muitos anos os moradores penaram, carregando
água ladeira abaixo para cozinhar e tomar banho.
Nos registros do 'Projeto
CHISAM” conclui-se claramente que não houve um cálculo preciso
para a o total de construções das unidades habitacionais. E,
também não é relevante a afirmação de que as casas construidas
seriam direcionadas aos favelados. Certeza disso é o fato de que a
maioria dos moradores dos conjuntos habitacionais não conseguiram
quitar seus imóveis conforme previsto. A partir daí o BNH passa a
financiar casas para a população de renda mais elevada, até mesmo
a classe média.
A ENTREVISTA
CODIFICADA”, assim designada pela CHISAM, deixa transparecer que a
idéia principal era preparar os moradores para a remoção, mas, de
maneira velada, suas vidas, no que tange a parte sócio econômica
seria desvendada e direcionada a um destino para ele, até então
incerto. Um questionário que deveria simplesmente ser respondido,
sem saber exatamente a que se destinava, ou qual o peso relevevante
na aquisição da nova casa. Para uma melhor compreensão do método
utilizado no questionário descrito, continuamos a reproduzir o
trecho que elucida esse assunto:
Os dados relativos à
ocupação e bairro em que o favelado trabalha são importantes,
porque a ocupação da o grau de segurança que o novo mutuário
poderá oferecer em termos de pagamento do imóvel a ser adquirido. A
pessoa com uma ocupação especializada tem maior segurança no
trabalho do que uma sem essa qualificação.
Para suprir as
dificuldades que surgem com os informantes que não podem comprovar
renda, foram elaboradas questões relativas ao nível de consumo.
Sabe-se, que por teoria, que há uma correlação entre renda e
padrões de consumo, ou seja, famílias com renda mais alta tendem a
consumir mais.
Foram escolhidos dois
tipos de consumo para comprovar a renda:
a) Tipo de habitação,
incluindo piso e tamanho da residência.
b) Bens de consumo
duráveis.
Completando a teoria de
que há uma correlação entre renda e nível de consumo, pode-se
acrescentar que foi feita uma pesquisa entre populações oriundas de
várias favelas morando em conjuntos habitacionais, e ficou
constatado que as famílias de renda mais alta eram as que despunham
de maior quantidade de bens duráveis.
Os dados a seguir mostram
a existência de bens de consumo duráveis, verificada nas habitações
de dois conjuntos residenciais construídos em 1969 e que envolvem um
universo de cerca de sete mil famílias que foram removidas e onze
favelas totalmente modificadas e localizadas em diversos pontos do
Estado.
Esses bens de consumo
duráveis, bem como tipo, piso e tamanho da casa, recebem um
coeficiente em termos de percentagem. A cada bem de consumo é
atribuído um peso totalizando 100% ( cem por cento ). O entrevistado
que declara uma renda alta e não dispõe de documentos para
comprová-la deverá assumir um nível de consumo nessas duas
escalas, suficiente para que possa entrar no planejamento de uma
habitação nos conjuntos habitacionais da CHISAM. O questionário
anexo mostra como por declarações diretas ou interpletações
visual do entrevistador pode-se avaliar a renda familiar real do
favelado independente das informações por ele prestadas.
NOME DO
RESPONSÁVEL_________________________Nº BARRACO_______
IDENTIDADE
Nº__________________
EMPREGO ATUAL
(OCUPAÇÃO)____________________BAIRRO____________
NOME DA
EMPRESA________________________________________________
CARTEIRA
ASSINADA_____________SIM______________NÃO_____________
SALÁRIO_______________________________OUTRAS
RENDAS____________
NOME DO
CÔMJUGE________________________________________________
EMPREGO
ATUAL______________SALÁRIO____________BAIRRO__________
Nº DE DEPENDENTES
MENORES DE 18 ANOS
FEMININO_________MASCULINO_________________
DEPENDENTES MAIORES DE 18
ANOS
NOME_______________OCUPAÇÃO_________PRÓPRIO_____AGREGADO___
SITUAÇÃO DO BARRACO
PRÓPRIO________CEDIDO__________ALUGADO_____________
QUANTO PAGA DE
ALUGUEL______________________________
TIPO DE BARRACO
COZINHA DENTRO DO
QUARTO___COZINHA E QUARTOS SEPARADOS_____
QUARTO, SALA E COZINHA
SEPARADOS_______________________________22
O trecho observado acima
trás uma revelação maior quanto ao proceso utilizado pelos órgãos
envolvidos na remoção; em relação a orientação dada aos
moradores da favela no evento de pré cadastramento. No texto,
detectamos, mais uma vez, a não cumplicidade dos entrevistadores
para com os entrevistados. Há no ato da entrevista um “parecer
visual”, onde o entrevistador ao reparar os bens de consumo, a
estrutura que divide a casa e, que tipo de piso reveste a casa, tem
de antemão; antes mesmo de se começar a entrevista, o parecer
definitivo da situação.
A afirmação de que
somente seriam removidas as favelas que “por motivos evidentes”
não pudessem permanecer onde se situam, é fator de controvérsias ,
ou algo que deve ser analisado. Os incêndios que se deram nas
favelas, após o início das remoções, devidamente documentados
pelos canais midiáticos, não deixaram opções aos favelados.
Destituídos de suas moradias não tiveram opção, o jeito foi
aceitar o destino traçado, que muitos, sem consulta prévia, tiveram
que aceitar.
Os conjuntos
habitacionais construídos pela CHISAM-BNH-COHAB já não guardam a
mesmas paisagems de suas inaugurações. Aos pouco as chamadas
“puxadas” tomaram conta dos entornos, em alguns casos específicos
por causa do aumento das famílias; assim, surgiram os becos, assim
sumiram os jardins que outrora cincundava de plantas as unidades
habitacionais. O plano de remoção fracassara, pois, algumas favelas
que não haviam sido destruídas por completo aumentaram de tamanho.
Por volta de 1975, o plano de remoção foi aos pouco perdendo forças
e, a meta de ver a Zona Sul sem a presença das favelas foi se se
esvaziando. Não havia mais verbas para bancar o plano de
erradicação. O BNH passou então a financiar moradias para a classe
média até 1986, ano de sua extinção.
Muitos líderes que
sobreviveram ao movimento de remoção conseguiram se manter em suas
comunidades, graças a uma forte mobilização de resistência.
Cantagalo, Rocinha e Pavãozinho são parte e símbolo desse
movimento. Muitos intelectuais atuaram juntamente com os líderes de
associações, engrossando a massa que clamava pelo direito de
permanecer no local.
Ainda hoje os políticos
não entendem que a favela não pode ser vista como algo ilegal ou
provisório. O espaço da favela é constantemente e, há muito,
arena de disputa eleitoral, onde os moradores, por causas da
burocracia funcional, simpatizam-se pelos serviços assistencialistas
de políticos oportunos. Corte de cabelo, emissão de carteira de
identidade, e outros serviços que deveriam estar ao fácil alcance
da população, são distribuídos ao longo dos anos e com isso,
contribuíndo para perpetuar o candidato no seu reduto eleitoral. Não
é difícil encontrarmos na comunidade quem esteja agradecido e
convencido de que “aquele candidato” , que há anos serve a
comunidade com os seus serviços assistencialistas, é o candidato
ideal.
CIDADE ALTA: O
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO CULTURAL E POLÍTICO DE UM BAIRRO –
DE 1969 À 1976
Dessa maneira, aconteceu
a remoção de favelas que originou a migração dos antigos
moradores da Favela da Praia do Pinto para o Conjunto habitacional da
Cidade Alta. Nossa missão é identificar ou não o progresso
socioeconômico nas vidas dessas pessoas. Se houve uma evolução
intelectual no que se refere a educação e, se a remoção foi um
fator positivo ou negativo no decorrer dos anos. Somente através da
narrativa dos moradores, é que teremos como resgatar o passado.
Teremos memórias dos que preferem esquecer e dos que fazem questão
de não esquecer. São memórias diferenciadas. Alguns estão
propensos a defender o que ideologicamente acreditam, mesmo que isso
lhes custe o silêncio da verdade. Outros tentarão lembrar do que
foi bom e esquecer o que foi ruim. Ainda outros farão questão de
esquecer de tudo: a memória da resistência e a memória da
comunidade. As duas, em algum momento do passado, entraram em choque.
Os líderes comunitários que desejavam resistir e, os moradores que
anseavam por partir; ou vice-versa. Ou ainda, o morador que anseava
uma nova vida, e os que não queriam perder os seus laços de
família, amizade e compadrio. Alessandro Portelli fala do papel do
historiador diante dos contratempos da memória dividida:
“...a tarefa do
especialista, após recebido o impacto, é de se afastar, respirar
fundo, e voltar a pensar. Com o devido respeito às pessoas
envolvidas, à autencidade de sua tristeza e à gravidade de seus
motivos, nosa tarefa é interpretar criticamente todos os documentos
e narrativas, inclusive as delas.Como tentarei demonstrar na verdade,
quando falamos de uma memória dividida, não se deve pensar apenas
num conflito entre a memória comunitária pura e espontânea e
aquela 'oficial' e 'ideológica', de forma que , uma vez desmontada
essa última, se possa implicitamente assumir a autencidade
não-mediada da primeira. Na verdade, estamos lidando com uma
multiplicidade de memórias fragmentadas e internamente divididas,
todas, de uma forma ou de outra, ideológica e culturalmente
mediadas”.23
São as várias memórias
que processadas e analisadas irão compor o resgate e a história da
comunidade em questão. Todas as diferenças e pontos de vista devem
ser considerados pelo historiador, este, destituído da emoção e
partidário da imparcialidade. O que passa a importar é a observação
intuitiva e, os múltiplos caminhos que a pesquisa oral proporcionará
antes mesmo do desfrecho da pesquisa.
O historiador que se
propõe a trabalhar com a história oral, deve conseguir a informação
e processá-la e, em momento algum deve ter como ponto de partida à
sua pesquisa a preposição de suas verdades. O pesquisador deve se
despir de opiniões vazias e encontrar o seu verdadeiro objetivo
diante de seu objeto de estudo.
Toda a história tem
início a partir dos registros. O que não foi contado e registrado
não é história. O próprio registro oral, que passa de geração
para geração, pode ser um mito ou lenda, mas, quando registrado e,
até mesmo descoberto a sua origem, é capaz de elucidar
comportamentos, ritos e diversidade cultural de vários povos.
O incêndio que ocasionou
a retirada imediata, em 1969, dos moradores da Praia do Pinto, ainda
hoje não foi diagnosticado quanto a sua causa. Muitos falam em
especulação imobiliária, outros que na época faziam parte do
governo tentam justificar a remoção dizendo que a população,
agora poderia viver longe das arbitrariedades dos marginais que
dominavam a favela. O paradoxo desse contexto é que, o Estado, no
que se refere a segurança pública não mostrou presença ostensiva
e decisiva no combate ao crime nas unidades habitacionais. Um
personagem muito conhecido dos antigos moradores da Praia do Pinto,
foi a professora Sandra Cavalcanti, na época secretária dos
Serviços Sociais do Estado da Guanabara. A figura de Sandra
Cavalcante ,trazia, segundo análise de registros midiáticos da
época, um certo desconforto aos favelados da Praia do Pinto.
Conhecida pela fama de durona e, por participar ativamente nos
processos de remoções, era vista como a principal suspeita no
incêndio que extinguiu de vez com toda a favela.
Muitos moradores da
extinta Praia do Pinto foram morar no Conjunto Habitacional da Cidade
Alta – tema principal desse trabalho. Como podemos observar, o
incêndio que motivou a forçada remoção, foi o ator principal e,
responsável pela inauguração de um novo bairro da Zona Norte,
localizado em Cordovil. A remoção, ainda em fase de pré
cadastramento teve que ser antecipada por causa do desastroso
acontecimento. A partir daí é empreendida uma grande saga dos
moradores da Praia do Pinto em direção aos conjuntos habitacionais
da Cidade Alta. Ainda hoje encontramos vestígios na vida desses
moradores de um incêndio que não se apagou.É no site
www.oglobo.globo.com/rio/bairros que encontramos a ilustração que
narra esse acontecimento.
“O
Leblon já teve uma das maiores favelas da cidade. No terreno onde
estão hoje os prédios do Selva de Pedra havia a Favela Praia do
Pinto, com cerca de 40 mil moradores. A comunidade foi extinta
definitivamente em 1969, após um incêndio de grandes proporções.
Como os barracos eram feitos de madeira, o fogo, de tempos em tempos,
aterrorizava a vida dos habitantes. Foram sete incêndios no total, e
até hoje há suspeitas de motivação política para alguns deles
por causa da especulação imobiliária da época. A Cruzada São
Sebastião, com dez blocos e cerca de 3 mil moradores, guarda
lembranças da vida na Praia do Pinto. Muitos moradores se mudaram da
comunidade para o conjunto habitacional criado por Dom Helder Camara
nos anos 50.
23
O
incêndio que não se apagou esta não só na memória dos que
tiveram que se mudar às pressas, mas também nas condições de vida
social, econômica e política que se desenvolveu no bairro desde sua
existência. Logo abaixo temos o momento do incêndio registrado e
disponibilizado no site:
Fig.4
–Incêndio na Favela da Praia do Pinto em 1969-Disponível e m
em
16/04/2012.
Fig.
5 – Praia do pinto em 1964 – Disponível em
O que nos importa como produto final
desse trabalho é, traçar um quadro elucidativo, onde possamos tirar
nossas conclusões quanto as condições sócioeconômica da
população, tendo em vista a infraestrutura interna;e ou, o
desenvolvimento da cidade com o passar dos anos. O sucesso dessa
empreitada esta diretamente ligada às condições em que foram
entregues o conjunto habitacional, bem como, a situação
socioeconômica de seus ocupantes na época da remoção e no tempo
atual.
Sabemos que os critérios da remoção
levou em consideração o poder aquisitivo das pessoas. Esse simples
ponto conceitual adotado pela CHISAM mudou drasticamente a vida de
centenas de famílias que vieram morar na Cidade Alta. Os bicos eram
contados como ponto positivo nas rendas das famílias, portanto, um
morador da favela que tinha dois ou três bicos era apontado como
apto a pagar as prestações da futura moradia. Mas, a distância do
local de trabalho comprometeu o bico de muitos moradores que ganhavam
a vida na informalidade. Com a perda da renda a qualidade de vida
familiar cairam vertiginosamente e, outros membros da família foram
obrigados a trabalhar fora, inclusive as mulheres. Outro fator que
influiu muito a vida dos primeiros moradores da Cidade Alta, foi a
separação dos vizinhos e parentes de longos anos na favela da Praia
do Pinto. Muita mulheres que trabalhavam fora, contavam com a ajuda
da vizinhança ou de parentes para olhar as crianças. Como o lugar
para onde eram removidos era definido pelo fator renda, muitos
vizinhos e parentes foram separados e, diversas famílias tiveram que
se reestruturar nesse sentido. Na época da remoção, os que tinham
uma renda maior, ou a comprovasse por meio de posses de mobílias em
seus barracos, iam direto para a Cidade Alta. Os que tinham uma renda
menor eram embarcados para a Cidade de Deus- favela localizada em
Jacarépagua, Zona Oeste da cidade.
A delimitação dessa pesquisa termina
no ano de 1975. A razão desse limite baseia-se justamente no ano em
que o Governo Militar desiste de dar continuidade às remoções por
causa da falência do projeto. O que ocorreu na verdade ficou
explícito nas estruturas originais dos conjuntos habitacionais e, na
mudança geográfica de seus entornos. Muitas famílias perderam
poder aquisitivo ao mudarem-se para a Cidade Alta. Suas rendas eram
comprometidas em até 70% para o pagamento dos carnês, que durariam
vinte anos para a sua quitação. Uns dos pontos negativos do plano
de remoção foi justamente a alta prestação a que os assalariados
foram obrigados a pagar,mpossibilitados de arcar com as despesas e
perdendo gradativamente qualidade de vida; foram obrigados a vender
seus apartamentos e comprar barracos no entorno do bairro. Isso se
aplica também aos núcleos familiares que casavam seus filhos e
precisavam de um lugar para morar. O mais acessível estava em uma
das favelas do entorno que acabou por envolver toda a Cidade Alta. Um
de nossos entrevistados, o sr. José nos cedeu cópia de uma
prestação para que pudéssemos compara com o salário mínimo da
época. Logo abaixo podemos ver essa projeção:
Figura 6 -Carnê
da COHAB- Uma das prestações que seriam pagas em 20 anos.
Através do recibo cedido
pelo sr. José, podemos constatar o grande contraste no preço da
prestação, o que nos leva a crer que as moradias não levaram em
conta a população de baixa renda. Pela data de vencimento do
carnê verificamos o salário mínimo vigente da época que era de
CR$ 187,20 ( cento e oitenta e sete cruzeiros e vinte centavos). Isso
quer dizer que, os moradores comprometiam mais de sessenta por cento
de suas rendas para pagar a casa própria. No exemplo do sr. José,
houve um atrazo e a prestação subiu de R$ 109,93 ( cento e nove
cruzeiros e noventa e três centavos), para R$ 153,90 (cento e
cinquenta e três cruzeiros e noventa centavos), ou seja, mais de
80% dos soldos da maioria dos moradores que ganhavam salário mínimo
ou viviam de bicos.
Outra solução encontrada que acabou
alterando a arquitetura do local, foi a chamada “puxadinha”. A
construção de mais um quarto manteria a nova família no mesmo
teto.
Hoje o local é reconhecido pelo
governo como favela, ou melhor, “Complexo da Cidade Alta”, que
envolve as favelas que foram surgindo ao seu redor durante os anos de
1970 (Divinéia, Pica-pau, Serra Pelada e Chega Mais).
Através de pesquisa que realizamos
com moradores que vieram da Praia do Pinto, constatamos que a
situação sócioeconômica desses melhoraram com o passar dos
tempos; mas, ao traçar esse perfil, verificamos que a segunda
geração foi quem se beneficiou desse avanço. Os primeiros
moradores, em sua grande maioria, que tinham empregos fixos
permaneceram neles até se aposentarem. Seus filhos e netos já não
querem ter a vida que seus pais levaram e, uma grande parcela
conseguiu concluir o segmento escolar de 2º grau e, uma parcela
menor concluiu uma faculdade. O grande diferencial é que, enquanto
os primeiros moradores ainda vivem na Cidade Alta, ao menos 35% de
seus descendentes foram morar fora do complexo, ou seja, em outro
bairro.
Muitos moradores antigos tiveram sorte
e talento na empreitada da nova moradia. O caso do sr. Jorge de
Andrade, por exemplo, que ao vir para a Cidade Alta trabalhava na
PM. ainda hoje, com seus 67 anos de idade, depois da reforma,
trabalha como operador de máquina. Oriundo da favela do Esqueleto,
Jorge é casado, e bem casado, como tem orgulho de dizer; e tem
quatro filhos: dois homens e duas mulheres. Das duas meninas, uma é
enfermeira e outra é professora. Dos meninos, um concluiu o segundo
grau e o outro cursa o primeiro grau.
Seja através da infraestrutura
interna do bairro, ou fatores externos relacionados a previdencia
governamental, percebemos uma melhora nas condições socioeconômica
dos moradores. Para podermos compreender melhor o que foi reservado
como infraestrutura aos núcleos familiares da Cidade Alta, temos que
nos reportar a discrição da CHISAM (1973)quando do planejamento da
arquitetura do novo bairro:
“Cidade Alta –
Trata-se de um conjunto equipado com lojas para comércio, escolas em
niveis primário e secundário e clube recreativo em formação.
A Ação Comunitária do
Brasil está desenvolvendo um programa com a finalidade de aumentar
as oportunidades dessas famílias na área urbana
Assim é que foi criado
um Centro de Treinamento Profissional que funcionará em convênio
com o Departamento Nacional de mão-de-obra do Ministério do
Trabalho e Previdência Social.”
As famílias que foram
removidas para a Cidade Alta perderam espaço urbano e, asfixiados
foram se adaptando e, aos pouco, com o passar dos anos, recuperando,
ou substituindo, de alguma maneira, a sua maneira de viver. Na Praia
do Pinto era normal o espaço urbano oferecer atrativos que eram
comuns a todos. A praia, o cinema, as ruas do bairro, as praças e
clubes eram frequentados por classes diferenciadas. Havia uma certa
liberdade e poder de escolha. O objeto de consumo estava ali, bem a
frente dos citadinos. Derrepente, ter tudo isso bem longe gerou uma
sensação de abandono e, ao mesmo tempo, os sentidos aguçaram-se em
busca de alternativas mais próximas. Um exemplo bem típico nesse
sentido foi a Praia de Ramos que ficava lotada nos finais de semana
com famílias inteiras vindas da Cidade Alta; o cinema de Ramos e o
de Olaria atendia na época a zona da Leopoldina. Por conta disso os
clubes e agremiações perceberam a carência de lazer nos anos 70 e
abriram suas portas para a explosão das discotecas.
Sr. Jorge, um de nossos
entrevistados, é enfático ao falar sobre sobre a infraestrutura
inicial da Cidade Alta. Em seu depoimento ele nos conta que foi a
favor da remoção, pois “ saí de um barraco e vim morar em um
apartamento”. Apesar disso, Jorge observa que faltou posto de saúde
e as escolas vieram bem depois.
Segundo depoimento de
outra moradora, Mariza – havia ainda muitas ruas sem
calçamento.Quando foi para a Cidade Alta, Marizinha- como prefere
ser chamada por todos, trabalhava como governanta, e hoje é formada
como guia de turismo. Tem um casal de filhos, ambos terminaram a
faculdade- fala com orgulho Marizinha. Dizendo-se à favor da
remoção, ela nos conta que houve uma preparação por parte da
Prefeitura e, que chegou na Cidade Alta de caminhão.
Os dois filhos de
Marizinha não moram mais na Cidade Alta e nem em seu entorno, o que
nos chamou a atenção, diante de outras entrevistas que quanto maior
o grau de escolaridade, maior a possibilidade e desejo de morar fora
do local de origem. Restam os sentimentos bairristas dos que não
puderam ou não quiseram se ausentar.
Já colocamos aqui a
visão da Cidade Alta no olhar do governo que, classifica o conjunto
como um complexo de Favelas. É importante ressaltarmos a visão dos
moradores da Cidade Alta, em relação a eles mesmo. Como seria o
parecer desse quadro em sua maior inversão: o olhar do asfalto para
a favela. A socióloga Denize, ex- moradora da Cidade Alta, em
entrevista a Ação Comunitária do Brasil esclarece:
“...Afinal de contas, o
que é uma favela? E aí eu descobri que nem mesmo o IBGE tem uma
noção muito clara. Ele diz que são espaços degradados.Enquanto
tal existem muitos por aí, qualquer puxada (construção irregular),
qualquer bairro de periferia, se é um espaço degradado, pode ser
qualificado como favela. Percebi também que favela, dependendo de
quem fala, pode ter perfis diferentes. Para o morador, a favela é
positiva quando ele precisa dessa identidade e negativa, quando
atrapalha. Quando ele vai arrumar um emprego, ele não gosta de dizer
a moradia porque aquilo denigre ele. Mas se está diante de uma
oportunidade, digamos de um político, a identidade de favelado pode
ser proveitosa.”
A construção da
identidade bairrista depende do contexto histórico vivido pelo
morador de determinado lugar. Ele assume uma certa defesa em relação
ao lugar, devido a sua vivência, ou seja, lugar onde nasceu,
cresceu, estudou, se divertiu e costurou laços de amizades. É comum
escutarmos de alguns moradores que não sairiam do bairro por nada
nesse mundo, como também, em sua minoria, outros enfatizam o desejo
de se mudarem. A explanação acima nos revela que o bairrismo pode
superar a posição socioeconômica de determinados moradores e, a
autodenominação de favelado depende muito da situação que se
coloca diante dele.
Diante das explanações,
nos inclinamos a perceber que, este aglomerado de cimento armado que
é a Cidade Alta, suscita ações internas e externas. O complexo, na
verdade, virou algo que sofre mutações ao longo de sua existência
conforme o olhar do interessado, seja ele o morador, o político ou
uma instituição. Para o asfalto a favela revela um lugar perigoso,
esconderijo de marginalizados. Para o favelado a favela assume que
dependem de suas circunstâncias. É nesse contexto que Denize
orienta a sua fala:
“ Pro asfalto, por
assim dizer, a identidade de favela continua clássica, de
marginalidade, de população analfabeta, de degradação moral, de
degradação urbana. Pras autoridades, continua sendo um problema de
saúde pública, de arquitetura urbanístico. O que importa é que
atualmente a favela vem ganhando um novo olhar sobre ela. A favela
ganhou um qualificativo, mas do que um substantivo.Então quando a
prefeitura quer fazer melhorias num conjunto habitacional, ela
inventa um novo nome que é o Pró Morar Carioca que é prá áreas
favelizadas. Então, não é apenas o morador que vai ter o olhar de
conjunto habitacional favelizado,mas também a autoridade. Daí vem
toda uma ambiguidade que faz com toda essa idéia de favela seja um
verdadeiro joguete na mão da sociedade.”
Trabalho Monográfico de: Marcelo Claudino Henrique/Pós Graduação na Simonsen /Direitos Reservados.
3CHALHOUB,Sideney.
Cidade Febril:cortiços e epidemias na corte imperial.São
Paulo:Companhia Das Letras,1996, p.15-16.
4Disponível
em: http://www.blocosonline.com.br/literatura/prosa/reflexoes
5Relatório
apresentado ao Ex.Sr.Dr.J.J.Seabra-Ministro da Justiça e Negócios
Interiores.Referência na Biblioteca de Arquivo Geral da Cidade do
Rio de Janeiro: 728.2:333.32 B126).
6Idem
7VALLA,Victor,Vicent.
Educação e Favela: Políticas para as favelas do Rio de Janeiro,
1940-1985.Rio de Janeiro: Vozes: 1986,P.90
9Jornal
do Brasil.Rio de Janeiro.
Edição de 16/12/1979,P. 31
10VALA,
Victor Vicent.,op. Cit, loc. cit
11Jornal
do Brasil.op. Cit. Loc. cit
12CHISAM-Referencia
no Arquivo da Cidade: 333.322 (815.41)
13CHISAN,op.cit.
p.12
14VALA,
Victor Vicent.,op. cit., p. 91 et seq.
15Ibidem,
p.93
16Ibidem,
p.94
17CHISAN,op.cit..
loc. cit
19Idem.
20CHISAM,
op.cit, p.13, et, seq.
21CHISAM,
op.cit, p.26, et, seq.
22Ibdem,
p.26-51
23PORTELLI,
Alessandro apud FERREIRA, Marieta de Moraes. Usos e Abusos da
História Oral. 8ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
p. 106.
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