domingo, junho 30, 2013

Thomas Hobes

Guerra e paz: do filósofo ao cantador
O filósofo


Thomas Hobbes
O ponto de partida da filosofia de Thomas Hobbes se baseia no fato de que nada pode ser pior do que a guerra. Com efeito, para ele a guerra impede o trabalho, o cultivo da terra, o comércio, o desenvolvimento técnico, o conhecimento e as manifestações artísticas. A guerra destrói os laços de sociabilidade, torna os homens desconfiados, cada um temendo todos os outros, sempre na expectativa de que alguém vá roubar os seus bens, saquear a sua propriedade, tirar a sua vida. Em tais circunstâncias todo homem é inimigo de todo homem.

A partir dessa contestação, Hobbes deduz que a guerra jamais poderá ser benéfica para os homens. A sua filosofia tem a intenção de mostrar de que modo os homens devem se organizar politicamente a fim de estabelecer a paz. Antes de tudo é necessário investigar as razões que levam os homens ao conflito, afirma Hobbes.

Como conhecer o que causa uma guerra? O que faz os homens se comportarem de modo cruelmente belicosos uns em relação aos outros? Primeiro essa pergunta deve ser respondida para que se possa construir a paz. Para Hobbes, a guerra é o resultado da soma de dois fatores: a natureza humana e a fraqueza do Estado. Por tendência natural nós buscamos realizar o próprio bem e agimos motivados pelos nossos próprios interesses. Toda ação voluntária é feita visando à obtenção de algum beneficio para quem age.

Em uma situação em que não há um poder comum capaz de estabelecer limites para a ação e garantir a preservação da vida e dos bens de cada um, a solução dos conflitos tende a se dar, não de modo pacífico, mas belicoso, já que todos os homens naturalmente fazem tudo o que está ao seu alcance para preservar e satisfazer os seus desejos, mesmo que isso custe o benefício, a vida ou os desejos dos outros.

Por aqui se vê que, para Hobbes, a única maneira de evitar a guerra será estabelecer um poder bastante forte para impor limites às ações e evitar que as desavenças sejam resolvidas pela violência. Muitos contemporâneos e sucessores de Hobbes o criticaram duramente por dizer que os homens agem em nome do seu próprio benefício e tendem naturalmente à guerra e não à associação.

O cantador

Patativa do Assaré
Muitas centenas de anos depois, em algum lugar do sertão cearense, Antonio Gonçalves da Silva, poeta popular, nascido na Serra do Santana, interpretou as desgraças da guerra de outro modo, mas com a mesma consistência social. Como o filósofo Hobbes, o poeta Antonio Gonçalves sabe que a guerra rouba o bem estar coletivo, transforma os sonhos em pó, os projetos de vida, atingindo sem distinção os jovens e os idosos.

Só desgraças traz a guerra
Defendemos, pois, a paz.

Deve a paz sempre reinar
Em todo e qualquer sentido
Pois a guerra nos tem sido
A causadora do azar;
Rouba nosso bem estar
E o nosso sonho desfaz
Chora o ancião e o rapaz
Na hora que o canhão berra
Só desgraças traz a guerra
Defendemos, pois, a paz.

As mesmas desgraças que Hobbes registra ao impedir o cultivo da terra, prejudicar e paralisar o comércio, afetar seriamente – apesar dos “progressos" que, dizem, a guerra traz - afetar o desenvolvimento técnico, por fim, alterar as manifestações artísticas, uma vez que a temática se volta inexorável para o tema.

A paz é um bem comum
Que nos enche de prazer
Deve sempre florescer
No peito de cada um
Da guerra o triste zum-zum
É obra de Satanás
O vil inimigo audaz
Tudo destrói tudo aterra
Só desgraças traz a guerra
Defendemos, pois, a paz.

Por ser poeta, por ter uma previsão do mundo diferente dos demais, Antonio Gonçalves também há de lutar com moinhos de vento para ressaltar os malefícios que a guerra traz a uma simples amizade entre vizinhos, visto que a guerra destrói os laços de sociabilidade, torna os homens desconfiados, cada um temendo todos os outros, sempre na expectativa de que alguém vá roubar os seus bens, saquear a sua propriedade, tirar a sua vida.

A paz é a salvação
A vida e a felicidade
A guerra é a barbaridade
O luto a dor a aflição
A miséria e a traição
Como seu instinto mordaz;
Portanto a todos apraz
Implantar a paz na terra
Só desgraças traz a guerra
Defendemos, pois, a paz.

Em tais circunstâncias todo homem é inimigo de todo home – diz Hobbes. Hermann Hesse também, Anatole France, Thomas Mann também e inúmeros outros escritores e pensadores. Mas como convencer os políticos, militares e empresários que a guerra só traz desgraças? Voltemos ao sertão, à ilha deserta, aos oásis do Saara ou ao Sítio do Jenipapo, porque só nesses lugares teremos paz...

Fui certa noite cantar
No Sítio do Jenipapo
E ouvi lá um bate papo
Que me fez admirar;
Dizia à luz do luar
O velho Juca Tomaz:
Desde o vale até a serra
Só desgraças traz a guerra
Defendemos, pois, a paz.
(1973)

Baseado e adaptado com textos dos livros:
Yara Frateschi - Hobbes: a instituição do Estado - In: Filósofos na sala de aula - Org. Vinicius de Figueiredo - Berlendis editores ltda. (2007)
Patativa do Assaré - Cante lá que eu canto cá - Editora Vozes (2012)

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